31 de Julho

Avassalador Marcelo Flecha

Foi em estado de graça, com borboletas no estômago e absurdamente tenso, que assisti ao espetáculo Deus Danado, assinado por Marcelo Flecha, outro dia, na Casa Máscara de Teatro, em Mossoró. 

Dois monstros sagrados em cena, Jeyzon Leonardo e Luciana Duarte, Marcelo a subir as calças negras, folgadas por ventos e devaneios, a andar de um lado para o outro, dirigindo cenas, gestos e gritos foi, sim, um momento único.
Avassalador, Deus Danado passa num lugar qualquer, um pedaço de chão árido, abandonado, esquecido no meio do nada. Em cena, os dois personagens duelam pela sobrevivência entre a escassez de água, a ausência de afeto, a dor de sobreviver ao nada, o beijar sofrimentos.

Denso, “Deus Danado” nos arrebata entre dores, feito escarro na alma e socos no estômago vazio de vida.

Uma guerra entre dois mundos, num mundo só, que toca a alma com texto maravilhoso e uma direção, mesmo ali, diante dos nossos olhos em um ensaio, nos toca profundamente e verdadeiramente. Cenário traz o fogo do sertão, o conjunto vazio, e uma morbidez absolutamente poética. As telhas de fibra rasgada, a luz, a sonoplastia: tudo furacão.

Apesar de triste, os grotões os nossos Brasis clamam por vida, e se a vida é exposta através da Companhia Máscara de Teatro e do trabalho luminoso de Marcelo Flecha... merece ser aplaudida de pé.

ESTREIA
 

 

 

 

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