17 de Março

A vida como não deveria

Lá por maio de 2018, um mar de gente perdeu tudo quando um edifício, Wilton Paes de Almeida, no centro de São Paulo, ruiu após um incêndio destruir tudo que ali existia. 

 

Uma das guerreiras dessa história se chama Ana Paula Archangelo dos Santos, que vivia num cômodo com o marido, dois netos órfãos e uma nora.

Ela pagava R$200,00 por mês e, sobrevivente da tragédia, passou acampar perto dos escombros no Largo da Igreja Nossa Senhora dos Pretos.

 

Cerca de seis meses depois, em novembro do ano 2018, uma mensagem em inglês chegou em uma rede social da Folha de São Paulo, por causa de uma foto.
“A mulher retratada na reportagem, explicou o remetente, poderia ser minha mãe.”

 

O recado dizia, ainda, que a pessoa do outro lado do mundo tinha 24 anos e estava tentando descobrir o seu passado.

Kilian Imwinkelried foi adotado em São Paulo por um casal suíço logo após seu nascimento. 

 

“Em meus documentos o nome da minha mãe biológica é Ana Paula Archangelo dos Santos. Ela tem hoje 48 anos de idade. E são os mesmos nome e idade citados na reportagem; na foto vejo uma semelhança forte comigo.”

 

O rapaz pediu ajuda à Folha.

A Folha ajudou.

 

E com a ajuda de lideranças Ana foi localizada na “feira do rolo”, aglomeração que se forma diariamente perto dos escombros do edifício onde vendedores e compradores negociam coisas usadas.
Ali Ana vende café, bolo, lanche e cigarro avulso para sustentar toda a família.


Ana lembra bem os caminhares da sua vida.
Era menina, tantos filhos, tantos problemas. Confirmou, sim, que um deles fora para a adoção, mas duvidava que podia ser o mesmo menino.
Ao ver a foto do rapaz, que hoje vive na Suíça, a crença desfez-se em choro.

Era seu filho.

 

Ana descobriu, aos 23 anos de idade, que esperava o terceiro filho. A economia brasileira, para variar, ia de mal a pior... Com a inflação nos 40% e o desemprego uma ameaça constante como, aliás, sempre foi...
Ana fora expulsa de casa e ficara sem trabalho até conseguir um emprego na casa de uma família. A patroa, ao saber da gravidez, avisou.

“ Você não pode ficar aqui em casa com essa criança”.

Ana ganhava 50 cruzeiros por mês, o equivalente hoje a R$930, 00 e dormia na casa,  fazia todos os serviços.


Ana não conseguia decidir porque precisava mandar dinheiro para os pais, que criavam e seus dois filhos mais velhos.
Estava desesperada com medo de perder o emprego. 


 

Do outro lado do planeta, em Fiesch, povoado nos Alpes suíços, a enfermeira Yvone tentava ser mãe.
Tinha 29 anos e nenhuma barreira física, mas o filho demorava.
Ela e o marido Franz Imwinkelried decidiram pela adoção após conhecer a Braskind, ONG que orientava e habilitava casais à adoção internacional  no Brasil.


 

Mas Ana ainda achava que poderia manter o filho quando a patroa lhe deu berço e roupas pro bebê.

“ Ele ia ficar dentro do meu quartinho, trancado, mamando, eu dava carinho e voltava para trabalhar. Quando fosse a hora do meu sossego eu ia ficar com ele”.
 

Não foi isso que aconteceu e o marido da sua patroa exigiu que Ana ali com o bebê não ficasse.
Então ela procurou assistência social.
“Pensei que iam me ajudar achar um lugar pra ficar com ele, mas só perguntaram se eu queria dar o meu filho.”
A essa altura não via outra saída. “Eu não queria fazer isso, mas ele era muito pequenininho, não ia saber o que estava acontecendo, e alguém ia cuidar bem dele para mim. Eu tinha que pensar também nos meus dois filhos maiores.”


 

Vitor foi levado do Brasil...
 

Para celebrar 30 anos de casamento, Yvone e Franz vieram celebrar justamente em São Paulo.

Ao saber da ideia dos pais, Kilian resolveu investigar, contratou advogado... que em 22 de novembro ele encontrou o mesmo nome da mãe biológica do rapaz na reportagem da Folha sobre os sobreviventes daquele dia triste.


 

Os dois se encontraram, finalmente, em fevereiro.

Foi no Largo do Paissandu.
Mãe e filho, 24 anos depois... reescrevem as suas histórias. Ana estava lá com mais três filhos, os apresentam ao novo irmão. Choro, uma dor dessas que a gente não explica, e muita emoção.


A família suíça também estava lá.

Todos se abraçam. 

 

O filho suíço, de volta à sua família, sonha ser músico.
Ana fora despejada porque não teve dinheiro para pagar seu aluguel de R$ 600,00.
Os dois se falam todos os dias pelo whats-app.
Com informações da Folha de São Palo

 

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