Atravessava a Dom José Thomaz, ontem
Uma agonia mas, parei
Parei porque estava eu, o carro friinho, cheiroso e na minha frente três garis correndo muito, recolhendo o lixo da rua
Fui desacelerando e rezando por eles, pedindo justiça social para esse mundo cada vez mais distante de caminhos como tolerância e sacrifícios que, sinceramente, nem são
Numa casa, frutas lhes foram ofertadas
Eles arrancaram as luvas sujas e verdes e comeram, ali mesmo
No prédio ao lado do meu um porteiro ofereceu água gelada
Achei tudo lindo até, atrás de mim, carros começarem a buzinar impiedosamente
Fiz-me surdo, segui quietinho
Um dos garis me pediu calma
- Não se preocupe. Podem fazer trabalho de vocês na boa. Eu seguro esse povo estressado aqui. Saí do carro, pedi paciência aos lá de trás
Um insistia em buzinar. Sempre achei que gente que buzina muito, transa pouco, sei lá
Mas, enfim... os trabalhadores comeram suas frutas, tomaram suas águas, correram mais, lixos na caçamba e seguiram a diante
Foi minha prece matinal, aquela
Entre paciências, lixos e o cheiro da vida que, as vezes, nem cheira tão bem assim – mas que a gente, de verdade, ama viver
E seguir
Viva os verdadeiros heróis dos Brasis!