20 de Abril

Lei do fim do mundo

Katharina Gurgel merece respeito.
É, ela, um alento nas produções culturais da cidade de Mossoró, cada vez mais distantes do público.
Cada vez mais ausantes da arte.
Ela acabou de escrever um texto, sobre uma lei absurda que vive - e mata - a arte de Mossoró. Não enaltece o artista e afunda em, sei lá, mediocridades.



"Em Mossoró existe uma Lei, a LEI Nº 1404/2000, que torna gratuito o acesso aos deficientes físicos, visuais, auditivos, mentais e orgânicos em eventos sócio-culturais, esportivos e nos transportes coletivos no âmbito do município de Mossoró.

Essa seria uma Lei inclusiva muito interessante, caso destacasse no corpo do seu texto, quem arcaria com as despesas desses assentos ocupados gratuitamente em eventos privados.

Um evento privado já está dizendo, precisa se pagar, precisa se vender, para que aconteça e gere renda para o artista e para quem o produz na cidade. Várias pessoas são envolvidas nessa cadeia produtiva na realização de um evento desse modelo. São muitos os custos: pautas, impostos, transporte, hospedagem, alimentação, camarim, material de divulgação, som, luz, mídias digitais, produção de artes, produção de Vts, pessoal de apoio.

Mas o que importa isso? Nós, produtores culturais, temos que cumprir a Lei e garantir o acesso GRATUITO a  1 ou 1.000 deficientes que queiram assistir qualquer evento que se produza na cidade.

A injustiça de ter que arcar por contas que não são minhas me deixa extremamente indignada e triste, ser responsável pelas consequências de uma Lei omissa, que coloca, tanto os deficientes (eles querem apenas que a Lei seja cumprida, óbvio!), quanto os produtores culturais numa situação embaraçosa e constrangedora, que seria facilmente solucionada.

Não era necessário nada além de regulamentação da Lei (Poder Legislativo), estipulando um percentual ou um número de assentos reservados, assim como já é a realidade do transporte público. Simples. Não haveria transtorno e todos se beneficiariam.

Dessa forma, estando totalmente impossibilitada de produzir na cidade pelo fato de não fazer filantropia e sim trabalhar e ser remunerada por tal, como todo trabalho digno, comunico a todos que não estarei mais produzindo espetáculos teatrais, shows musicais, infantis, comédias, stand-Ups, e qualquer tipo de “evento cultural”, como cita a referida Lei, na cidade de Mossoró.

Não apenas eu serei afetada com essa minha decisão, mas muitas empresas e pessoas que também ganham com esses eventos, além da plateia, que paga e quer produções de qualidade.

Agradeço demais aqui a todos os meus patrocinadores fiéis e amigos, que desde muitos anos apoiam e estimulam o fazer cultural na cidade: Hotel Villa Oeste, Hotel Thermas, TCM, 95 FM, Creatoris Mater, Shopart, Candidus, La Goccia Blu, Universo da Criança, Jornal de Fato, Edmilson Serigrafia, muito obrigada, vocês foram fundamentais em todas as produções que já fiz.

Saudações culturais!

 

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