22 de Abril

Meus paraísos

Cheguei à Praia do Y ontem bem cedo e umas sete e meia precisei sair, resolver uma situação e...
Ali, logo após o Iate Clube, avistei um soldado – um rapaz magrinho, sem uniforme, uma calça jeans, velha pólo azul clara, mochila nas costas: assim andam os soldados quase sempre e, como vivo nos mares do Y, sempre também os avistando.

Ele estava sentado no chão, chorando.
E como não consigo passar por ninguém que possivelmente esteja precisando de um abraço e seguir... parei o carro, desci, perguntei se estava passando mal.

De pronto o soldado se levantou.
- O senhor é oficial?
- Homi: eu tenho cara?

Bastou um olhar desconfiado pelos meus tênis dourados para ele perceber que, ali, não tinha um cara adepto a continências.

- Chorando por que, meu amigo?
- Minha namorada ligou, acabou de dizer que está grávida e que eu vou ser pai.
- Então está feliz?
- Muito! Só preciso de coragem para contar aos pais dela.
- É menor de idade?
- Não, tem 19 anos como eu!
- Maravilha! Você mora onde?
- Satélite!
- Pois entre no carro. Vou deixar você lá!
Ainda tonto de emoção, ele entrou. Liguei o som do carro, fomos ouvindo Ana Carolina, ele perguntando que música era aquela...
- Eu perguntando sobre sua vida.

Está há um ano no Exército. Seu sonho trabalhar ali, “servir o Brasil”. Um cara do bem, filho de pais do bem, uma faxineira, um pedreiro, dois dos heróis das nossas vidas porque gente assim vale, de verdade, cantar.

Viramos amigos. Trocamos telefone – e essa minha história de Natal está só começando...

Deus sempre me dá presentes assim: pessoas, histórias, para a vida sim.


 

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